segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FELIZ ANO NOVO!

TEMPO. Invenção humana. "Demasiado humana". Observamos que um bebê nasce e alguém um dia nos contou que assim também nos ocorreu. Porque nós não nos enxergamos como algo que passa a existir  de repente. Para nós, sempre existimos, no presente. Mas através da observação de nossos sentidos sobre as coisas, aprendemos que bebês nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem. E  nos percebemos como parte desse ciclo.

E assim, há muito tempo, algum observador assíduo sobre a materialidade do mundo inventou o tempo. A cronologia das coisas. Uma forma eficiente de nos situarmos no grande infinito do Universo. Ou dos multiversos. Assim como a fala, o tempo é completamente abstrato, uma representação humana.

Porque observamos que as formas das coisas mudam acreditamos que tudo tenha um início e um fim. E a partir dessa premissa inventamos as contas, os intervalos para calcular o que chamamos de "começo, meio e fim" de tais transformações que tanto encantam como chocam os nossos sentidos.

Se você honestamente buscar lembrar de si mesmo em sua infância - não dos momentos, das circunstâncias ou de sua aparência - mas, de como você pensava, o seu próprio eu -, você saberá que simplesmente se enxergava como você. Tal como é agora. Você não se vê como um "Eu" transitório, pois você se sente de forma permanente. Inteira. Tem consciência de que possui um passado e possivelmente um futuro, mas, você não se sente em outra temporalidade que não seja o presente. É como se você sempre tivesse existido. Porque você simplesmente não vê a si mesmo como algo temporal. Você apenas é aquilo que é. E assim se sentiu em sua infância e assim também o será na velhice. Você será sempre você. Presente. Constante. Eterno.

Os gregos antigos possuíam uma forma muito interessante de observar a temporalidade. Para eles existia aquilo que era finito e aquilo que era permanente. Nós, seres humanos, somos perenes, enquanto que a natureza, o Cosmos, o Universo, era imortal. Nós, esses indivíduos tão insignificantes, tínhamos duas possibilidades de permanecermos eternos: a primeira delas foi fornecida pela própria natureza, pelo meio da reprodução. Nossa descendência é uma forma de fazer com que a humanidade seja também eterna. A outra forma, seriam os grandes atos, as grandes contribuições realizadas por um ser humano que poderiam ser relembradas por toda a posteridade, através da História, algo digno de ser narrado através dos tempos, imortalizando tais indivíduos, transformando-os em heróis.

Já nos pensamentos de origem judaico-cristã há uma concepção escatológica do universo material. Ou seja, de que toda a matéria é mortal e finita. Imortais e eternos, seriam apenas Deus e as nossas almas. "Alma", aquela "coisa" que é ou está em você e que intui que você sempre esteve presente, que é algo que sempre existiu e que sempre haverá de existir.

É interessante observar, porém, que tanto gregos quanto judeus buscavam pela eternidade da consciência humana, do indivíduo. Enquanto um buscava a eternidade pela recordação da memória no decorrer do tempo infinito, o outro defendia a ideia de que o corpo, assim como o mundo, é apenas um templo, uma morada temporária de uma consciência imortal, a alma humana.

Talvez seja tempo de brincar novamente um pouco mais com tais concepções sobre o Todo. A nossa consciência é tão criativa, tão crédula e tão inventiva, que me parece triste demais prender-se de tal forma ao passado sem buscar imaginar uma realidade que seja nossa própria "intuição".

E se somos eternos, tal como os judeus e perenes, tal como os gregos? E se de repente eu me imaginasse como pluma, como oceano e como Lilian sendo uma coisa só, em temporalidades diferentes que fogem a minha compreensão, porque o TEMPO simplesmente não existe? Assim como eu não possuo mais a forma e tão pouco me recordo de mim aos 3 meses de idade, eu também não me recordo enquanto rocha ou leito de algum rio. Eu sou o que sou. E sou além do que as minhas lembranças me permitem recordar.

Assim como hoje eu me recordo de minha adolescência como uma "fase", na época eu não me sentia como a adolescente em uma fase transitória da vida. Eu me sentia como sendo puramente "EU".

Talvez seja a memória humana - essa nossa grande capacidade de compreender a existência de passado, presente e futuro -, a grande inventora do tempo. Mas como todo inventor, ela é simplesmente incapaz de adentrar em sua própria invenção. Um escritor jamais poderá realmente vivenciar as aventuras que criou em seu livro, por mais que se descreva como uma personagem dele.

Ou seja, o que existe é sempre o presente. Eterno, constante, assim como somos, assim como nos sentimos a todo o instante que chamamos de tempo.
Espero que esse nosso próximo presente - o qual chamamos 2013 - em que toda a forma que existe dará  as suas sutis e discrepantes transformações, todos nós, seres eternos e constantes, possamos aproveitar cada uma dessas oscilações, mudanças e progressos, sem medo; com a coragem e a alegria de quem possui a consciência de que tudo muda e, por isso, permanece.

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