quarta-feira, 22 de agosto de 2012

DESCENDO DO TOPO

Quem não se lembra das aulas de biologia que tivemos ainda no ensino fundamental sobre a cadeia alimentar? O grande predador, lá no topo, todo poderoso? Pois é. Eis a nossa concepção de força, de superioridade, de poder.

Observe apenas o fato:

Eu mesma! Que talento, não?



Temos a plantinha que se alimenta da luz solar. Logo em seguida, o peixinho que come a plantinha, o peixe que come o peixinho, o peixão que come o peixe e o pescador, capaz de pescar qualquer um deles. Pura e simplesmente, um fato.

E como aprendemos a interpretá-lo? Vejamos:

Eu assumo apenas os desenhos. A interpretação cabe a arrogância de todos os humanos.


Lá está a plantinha, na camada mais baixa da cadeia alimentar, por servir de alimento primeiro, é considerada frágil, impotente diante dos "mais fortes". Logo após, vemos o peixinho como o segundo fragilizado e assim prosseguimos até chegar ao topo. Tal como num ranking, lá está o mais poderoso, o mais privilegiado, o mais forte! O grande predador capaz de dominar - devorar - os demais componentes da natureza que estão a sua disposição.

Bem... Vocês não acham um tanto conveniente essa interpretação das coisas "como elas são"? 


Por que não exercitamos uma outra espécie de interpretação sobre quem seria o "mais forte" em vez daquela que privilegia o predador? Tal como essa:

Assumo o desenho e a interpretação espero que seja compartilhada por muitos.


Imaginemos uma interpretação em que o grau de força maior, de grandiosidade - o topo do ranking - privilegiasse o grau de independência dos seres. Quanto maior a dependência em outro ser para garantir a sobrevivência, mais frágil seria o componente dentro do quadro da cadeia alimentar. 

E vejam só: nesse caso quem vai para o topo é a plantinha! Pois ela precisa praticamente só da luz solar para se alimentar. Bem como o peixinho que precisa apenas dos componentes da plantinha para saciar-se. E através dessa concepção a humanidade desce do trono e vai compor a margem da cadeia. Veja só que coisa! Justamente nós que nos considerávamos assim tão poderosos.

Ah, mas é claro que existem os contestadores da "nova ordem" de percepção da vida! Nós, humanos, somos complexos, os únicos que possuem uma consciência amplamente desenvolvida, uma inteligência atípica e superior aos demais, o que nos proporciona grande poder de autonomia e de domínio sobre eles! 

Como dizer isso sem ferir ainda mais o nosso ego? Pois é. Essa é uma outra interpretação passível de ser refutada. Nunca deixamos de depender dos componentes da natureza para sobreviver. E pior:  devido a essa "tamanha inteligência" humana, acabamos por nos tornar duplamente dependentes do meio. Além de continuarmos a sê-lo perante a biodiversidade do planeta, tornamo-nos também dependentes da gigantesca e complexa cadeia social das prestações de serviços. Pois a maioria das pessoas pescam os seus peixes num freezer de super mercado e colhem os seus frutos e verduras nas prateleiras de uma feira livre de domingo.

Portanto, caríssimos, aceitem o meu convite de descer do topo e procurem olhar ao seu redor através de outros patamares. Exercitemos a criticidade acerca das interpretações do mundo. Afinal, verdades são meras concepções.



2 comentários:

  1. Pura verdade, Lilian.
    Bela ilustração para sintetizar essa mediocridade da raça humana em relação ao mundo que nos cerca.

    Isso me fez lembrar dos TRILHÕES de dólares investidos anualmente por vários países para "explorar" a nossa galáxia- prova contundente, a meu ver, da ganância desenfrenhada do homem por dominância.

    Tantos milhões de pessoas famintas pelo mundo e as grandes potências preferem tentar descobrir um novo "El Dorado" para saciar a sua cede colonizadora!

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  2. Oi Akma! A busca por respostas das pessoas costumam ser quase tão grande quanto sua arrogância e ganância desenfreada. Nesse caso, acredito que há tudo isso envolvido...

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